domingo, 19 de abril de 2015

Soturno - Parte I

E pensei, porque não?

Comecei o ritual, banho, pensar no que vestir, e traçar uma rota de como chegar. Não fiquei pensando muito no fato em si.

Meu cotidiano ultimamente se resume ao trabalho e aos estudos. Há algum tempo que não saio com os amigos, que andam igualmente ocupados, então achei que seria uma boa oportunidade pra fazer algo diferente.

Terminei, pronto. Chamei o taxi e escolhi o perfume. O taxi chegou. Entrei, dei boa noite e as direções. Sem mais.

Cheguei, parei um pouco antes para tomar fôlego. Entrei em um bar de esquina, pedi uma agua e sentei onde podia avistar a entrada e o clima da night. Pouco a pouco as pessoas começaram a aparecer. Como sempre cheguei cedo demais.

Rostos ligeiramente reconhecidos, outros nem tanto e de alguns juro que me escondi. Dei mais alguns minutos, respirei e me encaminhei para a porta. Sem fila. subi a escadaria que dava ate a bilheteria, a partir daí nada se escutava. Entrei.

Escuro.





Enfim uma porta para um ambiente. E me deparo com uma cortina de PVC, no estilo matadouro. E era.

Não demorou muito para as luzes ofuscarem a minha vista, logo após passar pela cortina, e o som no ultimo volume quase estourar meu tímpano. Estava sozinho, meio deslocado preferi ir direto pro bar tomar alguma coisa para relaxar. Peguei uma cerveja e parei de frente a pista, ainda com poucas pessoas, para estudar a situação. Quanto mais me movia, mais tinha certeza que eu estava sendo alvejado de olhares..

A cada musica, a já esperada reação. E comecei a me sentir mais tranquilo. A musica tava boa, as pessoas nem tão esquisitas assim.. e a minha bebida tava acabando!

Algumas trocas de olhares com uns caras que passavam e o máximo que tinha conseguido era uma piscada. Continuei com a minha estratégia de ficar de canto observando. Saí para dar uma volta pela boate e passando pelo meio do povo senti uma um agarrão no meu braço. Gelei. Virei-me para ver quem era e dei de cara com rapaz, que pra minha surpresa, pediu desculpas. Havia me confundido com um amigo. Acontece.

Pedi outra cerveja, e ao começar a beber percebi, no meio da pista, um olhar direto e reto pra mim. De primeira desviei o olhar, fingi que não entendi, dei outra golada. Cada vez mais próximo o olhar e mais direta a intenção ficava. A cerveja acabou novamente.

Quando me volto para a pista e busco aquele olhar, não vejo mais. Forço a vista para tentar identificar entre tantas luzes coloridas aquele olhar. E nada.. Bem, deve ter sido impressão minha. Nesse momento Divas são ovacionadas de formas mais inusitadas que eu já presenciei. Comecei a me divertir vendo tanta adoração e dedicação à Deusas. Um fascínio! E sem alarde percebo uma presença ao meu lado.

Era o olhar. Passou a dançar ao meu lado e um momento ou outro nossos corpos se tocavam até que nos olhamos fixamente, melhor, ele olhou, eu olhava e desviava. E ele sorriu, um sorriso simpático, autêntico, sem forçar a barra e eu sorri de volta, voltei correndo para o meu querido e seguro balcão do bar e dali jurei que não sairia mais. Ele se aproximou mais e pelo som alto que impedia qualquer diálogo a menos que você depositasse sua mensagem aos berros a menos de 5mm de distância do tímpano, com a mão em meu ombro, ele se apresentou e foi então que o sorriso ganhou uma voz.

O sorriso: Tudo bem? Primeira vez aqui?
Eu: Sim, é sim!
O Sorriso: Está só?
Eu: Ehh .. sim! (meio incerto)
O sorriso :  Tá fugindo do meu olhar porque? (E nesse momento senti um frio na espinha.)
Eu : Não...nada...é que....eu tava confuso com essas luzes e meio que acabava não te vendo... 
O sorriso : Que pena porque eu estava te vendo e faz tempo. Desde que você encostou no bar eu estou de olho em você, viu?
Eu : Sério...putz...é que... não me leve a mal...combinei com uma amiga ela já deve chegar e to meio que sossegado sabe.
O sorriso :  Tudo bem então...posso te fazer companhia enquanto ela não chega. Vamos tomar mais uma lá no bar da varanda?
Eu (já com as pernas trêmulas e completamente sem jeito) : Legal, vamos lá!

Caminhando em direção ao bar da varanda (eu na frente e ele atrás), fui passando pelo meio do povo que lotava a boate a essa hora. Naquele aperto de escorrega daqui, passa por ali, achei que eu o tinha perdido de vista mas nem olhei para trás e continuei no mesmo passo apressado. Senti um puxão no braço e quando me preparava para mandar aquele garoto para aquele lugar, dei de cara com ele, o sorriso. Só que desta vez não teve olhar ou sorriso : Ele me puxou, me trouxe para perto dele e me deu um beijo na boca. Não cheguei a tentar detê-lo. Deixei rolar. Nos beijamos no meio da pista, de certa forma a musica e as luzes ofuscaram lentamente, e quando o beijo terminou o tempo voltou a correr novamente.

Envolvidos pela música, fumaça, bebida, estávamos lá para o que desse e viesse e tocasse. Depois de uns minutos de beijos, o sorriso disse : A propósito, você beija muito bem, para logo depois abrir outro sorriso acompanhado de algumas risadas que demos juntos.
...