sábado, 21 de julho de 2007

O PAN é do Rio ...

Tem bumba-meu-boi na festa de abertura. Fotos de lugares turísticos, como o Mercado São José, em Recife, decoram a Vila dos Atletas. A música-tema foi composta por paulistas. O evento cultural de cinema pan-americano não exibirá produções rodadas no Rio de Janeiro. E as emissoras de TV insistem: o Pan é do Brasil.


A polêmica está de volta com a chegada dos XV Jogos Pan-Americanos - Rio 2007. Prestou atenção? Este é o nome nome oficial do evento. E, segundo o comitê organizador, é assim que ele deve ser chamado.
- Não queremos entrar em polêmica, mas o nome do evento é este - limita-se a assessoria de imprensa do CO-Rio, parceiro dos governos federal e municipal na organização do Pan.


A grita dos cariocas chegou à internet com a comunidade "O Pan é do Rio, e não do Brasil", no site de relacionamentos do Orkut. Chegou às ruas com pequenas passeatas, como "O Pan é Carioca". Chegou à imprensa por uma campanha iniciada pelo jornalista Tutty Vasques, da revista "Veja Rio". Ele conclama o povo a repetir: "Pan do Brasil é o escambau!".


O colunista garante que não se trata de instinto bairrista e escreveu em sua coluna na última semana: "O carioca já está tão acostumado ao papel de bandido a que sua cidade se presta na crônica policial que nem se deu conta de que estão tentando surrupiar o que há de bom para acontecer no balneário agora em julho". E "acusa", inclusive, a Rede Globo de "roubar o Pan do Rio de Janeiro". A emissora tem como slogan da cobertura jornalística o "Pan do Brasil".


A TV Globo defendeu-se em carta à revista rebatendo as críticas: "Além do nome oficial, pela primeira vez estamos adotando uma marca gráfica de evento criada fora da Globo, como demonstração de união em torno do evento no Rio. O subtítulo 'O Pan do Brasil' foi criado com a aprovação dos organizadores, com a intenção de buscar a adesão de todo o país para os Jogos na cidade".


O curioso é que, ao mesmo tempo que este Pan é do Brasil, para as TVs o atleta tal ganhou medalha no Pan de Santo Domingo em 2003, e não no Pan da República Dominicana. Ou se prepara para competir no Pan de Guadalajara em 2011, e não no Pan do México. Enquanto isso, o mundo aguarda as Olimpíadas de Pequim, e não da China...


Criador da comunidade "O Pan é do Rio, e não do Brasil", o internauta Iran Klimowicz dá sua explicação dos motivos pelos quais o evento tem que ser considerado carioca: "Se o Rio de Janeiro disputou e venceu a escolha com São Paulo, se não haverá qualquer tipo de competição fora do Rio de Janeiro e se tradicionalmente não se denomina o local das competições pelo país e sim pela cidade onde se realizam, por que toda essa campanha para se tirar do Rio a supremacia e o charme pela realização dos jogos?".


A pergunta está no ar. Os políticos envolvidos na realização do Pan não gostam de falar para não alimentar a polêmica. Mesmo que volta e meia o governo municipal dê uma alfinetada no governo federal e vice-versa. Recentemente, o prefeito Cesar Maia rebateu as declarações do ministro dos Esportes Orlando Silva de que o governo federal era o grande responsável pela conclusão das obras dos jogos na sua cidade.


As alfinetadas públicas mostram como o governos estão divididos em campanhas diferentes. Por um lado, a cidade já estaria fazendo um investimento maior do que o previsto incialmente (pulou de R$ 1 bilhão para R$ 3,6 bilhões) apostando na campanha das Olimpíadas de 2016. O governo federal parece privilegiar a campanha do Brasil como sede da Copa 2014.


Um dos poucos políticos a fazer campanha declarada a favor do Pan do Rio é o vereador pelo partido dos Democratas, Carlo Caiado. Relator da Comissão do Pan da Câmara Municipal, ele organizou duas caminhadas e montou barracas em diferentes pontos do Rio para adesão de mais cariocas numa espécie de campanha de "não-nacionalização" do Pan.
- Esta é oportunidade de resgatar a imagem do Rio e discutir todos os problemas. É um momento histórico que não pode ser desperdiçado - diz o vereador.

por O Globo