domingo, 29 de julho de 2007

Quanto vale seu sucesso?


Briga na família


Uma discordância na divisão dos prêmios abala o aparentemente perfeito ambiente da seleção de vôlei

“O Ricardinho merece esse prêmio, ele foi o motor da equipe.” A frase foi dita pelo técnico da seleção de vôlei, Bernardinho, pouco depois de o jogador ter sido anunciado o melhor jogador da Liga Mundial de vôlei, na Polônia. Uma semana depois de o Brasil vencer a competição pela quinta vez seguida, o melhor levantador do mundo foi cortado e ficou fora do Pan. O motivo: dinheiro. A comissão técnica e os jogadores dividiram o prêmio de US$ 1 milhão pela vitória. O levantador decidiu, porém, que seu prêmio individual de US$ 100 mil seria dividido somente entre os jogadores, e não com a comissão técnica, rompendo uma combinação cumprida desde 1991. Segundo três pessoas próximas da seleção, Ricardinho e Bernardinho travaram, exaltados, o seguinte diálogo na frente da equipe:

– O prêmio do jogador é dos jogadores. São eles que passam a bola, eles que entram em jogo.

– Isso não é o combinado. Como você pode decidir isso e não me falar nada?

– E quando você vai dar suas palestras, você me fala alguma coisa? Quando vai gravar comercial, você divide com a gente?

De acordo com as mesmas pessoas ouvidas , Ricardinho já havia se queixado com companheiros de equipe porque Bernardinho, garoto-propaganda de um curso universitário, de um desodorante, de uma bebida à base de soja e de calçados esportivos, estaria faturando com a imagem da seleção sem que os jogadores recebessem um percentual. O levantador não se conformaria também com o fato de a comissão técnica, ao contrário dos jogadores, receber salário e ainda levar parte do dinheiro das premiações. Capitão da equipe, Ricardinho preparava sua próxima ofensiva: o grupo não iria dividir o dinheiro do Pan com a comissão técnica. Bernardinho soube do plano e teria dito: “Isso se ele estiver no Pan”. O treinador decidiu cortar sua estrela e promoveu a titular o eterno reserva Marcelinho. Bruno, filho de Bernardinho, foi chamado para a reserva. Levantador de talento genuíno, Bruno nada tinha a ver com a confusão e foi injustamente vaiado pelo público do Maracanãzinho no primeiro jogo da seleção no Pan. “É normal, tenho de me acostumar”, disse o jogador de 21 anos, que na seleção usa o mesmo número 1 que o pai vestia nos tempos de jogador. Na partida seguinte, Bruno foi aplaudido.

Procurados , nem Ricardinho nem Bernardinho quiseram falar. O jogador, conhecido pelo temperamento considerado “difícil”, já deu entrevistas dizendo que “foi traído”. Ele esperava que os jogadores ficassem do seu lado. O caso é o maior teste enfrentado pela “família Bernardinho”, um grupo até então notório pela união. Como as boas famílias brigam, mas não se separam, espera-se que o caso não afete a preparação para os Jogos de Pequim.

Nelito Fernandes por Época


Sempre fui crédulo que a força de um grupo supera qualquer individualismo exacerbado. Mas o fato que ocorreu na seleção brasileira supera este conceito, porque quando envolvemos valores numéricos fica difícil separar o sucesso do grupo do individual. A quem cabe decidir para quem se destinam os pro labores de uma seleção campeã? Até que ponto fazer sucesso fora de seleção esta ligado ao fato direto da imagem da mesma? Como estas são questões muito subjetivas a tendência em um grupo coeso é o estabelecimento de regras e acordos entre todos para que ninguém saia prejudicado; mas nem o casamento mais feliz do mundo esta livre de um dia ficar no meio de um mar de desilusão em tempestade. Quando o sucesso vem em uma constante, pode afetar a opinião de alguns membros que passam a não achar mais justo o acordo que foi feito anteriormente e desejam que sejam alterados alguns termos . Bem aí que entra a figura do líder conciliador que nem sempre consegue sucesso total e resta ainda um membro da equipe que não se conforma, então esta figura se obriga a ser substituída pela do líder autoritário que acarreta em certas decisões polêmicas, que para um público marginal a situação parece uma postura incoerente e despótica. Certas decisões são doloridas mas para o bom andamento e sinergia do grupo elas tem que ser tomadas, agradando ou não o público em geral.

Nenhum comentário: