terça-feira, 18 de setembro de 2007

A vida deveria imitar a Arte !

Alguns filmes todo mundo - gay ou não - devia assistir. "Eu os declaro marido e.. Larry" (USA - 2007) é um desses. O medo, antes de entrar na sessão no cinema, era que por ser uma comédia o filme podia ser um daqueles pastelões recheados de clichês bobocas sobre a homossexualidade. Quem já teve a oportunidade de assistir ao filme, exibido há duas semanas no Brasil, já sabe que esses ingredientes não chegam nem perto da telona.

"Eu os declaro..." é uma história de amor. Não daquelas convencionais. Por tratar-se de uma comédia romântica, existe, sim, aquela fórmula do "tudo vai bem até que tudo fica mal para no final tudo ficar novamente bem". Então o que chama atenção na história toda é o amor entre os dois amigos heterossexuais, Chuck e Larry, e como ter de se assumir gays, quando não são, muda completamente suas vidas.

Como acontece no filme "Strange Bedfellows" (AUS - 2004 - 95m) em que dois amigos de longa data (Paul Hogan - Crocodilo Dundee, e Michael Caton) descobriram esta mesma forma de poupar muito dinheiro em impostos. Tudo o que precisavam fazer é fingir que são um feliz casal homossexual. Parece simples até que um intrometido fiscal das finanças chega à cidade para os investigar. Dá pra ficar às gargalhados com as hilariantes desventuras deste par, o que é recorrente em "Eu os declaro marido e.. Larry" tanto que levou os produtores do filme australiano a mover uma ação contra o filme americano, os produtores americanos afirmam que nunca viram o filme australiano mas sabiam de sua existência! Que Chato!!

Soa até irônico para nós, homossexuais brasileiros, que um filme faça sátira com héteros apelando para um falso casamento gay a fim de conseguir direitos de pensão e seguro. No longa os dois bombeiros tem de simular uma relação homossexual estável. Os personagens se casam, vão a festas gays e Chuck, principalmente, deve resistir a tentação de se sentir atraído pela advogada da dupla, digo, do "casal".

E é aí que o filme ganha uma força incrível. Quando ambos saem no jornal e a relação fica exposta, os personagens começam a viver dramas freqüentes a todos os homossexuais. O modo como o preconceito é tratado emociona. Em determinado momento, Larry descobre que os outros rapazes do agrupamento na qual trabalha fizeram uma petição pedindo a transferência do casal para outro corpo de bombeiros. Pelo simples fato de "serem" gays. A lição de moral vem quando Larry cita inúmeras coisas que Chuck fez para cada um dos bombeiros antes de "se assumir gay", como ter salvado suas vidas ou emprestado dinheiro a eles, por exemplo.

É emocionante ver no cinema a homossexualidade sendo tratada de maneira tão natural e de maneira tão positiva. Os personagens aprendem lições importantes com a saída do armário, como por exemplo o uso inconsciente da palavra "bicha" como termo pejorativo ou ofensivo. Em uma cena crucial Chuck diz algo mais ou menos assim: "E não usem mais a palavra bicha. Quer dizer, eu usava essa palavra, mas isso era antes, quando eu era um cara preconceituoso e bobo".

A grande lição é que pouco importa a orientação sexual das pessoas e isso não deve servir para que alguém seja discriminado. É exatamente por toda a mensagem de respeito e união transmitidos que todo mundo devia ver esse filme. O final é super original e não poderia ser mais gay. Tem beijo e até o cantor Lance Bass, ex-N'Sync, faz uma pequena participação especial.


Colaboração William Magalhães

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